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segunda-feira, 18 de outubro de 2010

NOVENTA E TAL CONTOS, 28


clique na imagem para a ampliar: Fragata é o segundo, em pé, a contar da esquerda.


Fragata

António Cagica Rapaz

Quem via o Fragata na rua, com a sua boina e camisola aos quadrados, tinha muita dificuldade em imaginar ser ele aquele número 3 todo nervo, todo músculo, todo energia, que subia às alturas para ganhar lances de cabeça aos calmeirões, que antecipava com fulgor, que dobrava os companheiros na hora exacta, que ia a todas, a queimar, a rasgar, a dar a cara, com coragem e abnegação, que ainda arranjava forças e engenho para arrancar, campo fora, driblando curto, progredindo sempre, arrastando a equipa para o ataque.

Era empolgante, um verdadeiro espectáculo...

Não cheguei a ver jogar o Marcos, mas assisti a muitos jogos desse futebolista impressionante que foi o Manuel Santana. O Fragata veio a seguir para se tornar uma referência, um símbolo, um valor muito dificilmente superável. Por tudo, pela sua capacidade invulgar, pelo ardor, pela vibração posta em defesa da camisola do Desportivo, pelo exemplo, pelo excepcional nível de desempenho que atingia em cada jogo, a par de uma longevidade rara.

Ao Fragata faltou apenas confiança ou estofo psicológico para sair de Sesimbra a tempo de fazer a carreira que estava ao seu alcance. Mas acabou por ficar, como ficaram o Santana, o Valdemar e outros. Hoje, olhando para trás, talvez não sinta remorsos nem frustração porque teve a glória à medida da sua ambição tão modesta que cabia inteirinha numa selha de aparelho. Sabe Deus se teria sido mais feliz se tivesse abalado.

De qualquer modo, tenho pena que, por este país fora, nos maiores estádios, os bons apreciadores de futebol não tenham tido a oportunidade de admirar o jogador portentoso que foi o Fragata...

1982

1 comentário:

  1. Não são muitos os que conseguem ver o seu valor reconhecido.
    Para grande parte, essse reconhecimento, se acontece, chega demasiado tarde.

    BOA NOITE, Ó MESTRE!

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