__________________________________________________________________

quarta-feira, 2 de junho de 2010

AO REMINHO PELA BORDA D'ÁGUA, 13

Galhofa*

António Cagica Rapaz

– Boa tarde, ó mestre! Este caminho vai pra Sesimbra? E o Galhofa, que fora a Grândola ver jogar o Desportivo, tomou lugar na carroça que tem conhecido mais fama que uma diligência do fabuloso Far-West. Ao longo da sua narrativa, o Galhofa aparece a puxar a carroça, o burro ao lado do homem, depois o burro atrás, o homem a puxar e o Galhofa ao lado da mulher… Uma baralhada dos diabos.

O Galhofa tira a boina, lança-a contra a mesa e ameaça retirar-se. O Rafael, pachorrento, agarra-o pelo braço e obriga-o a ficar. O Rafael não se ri. Pede-lhe para recomeçar a narrativa. Ele aí vai outra vez:

– Boa tarde, ó mestre!

Depois, é a história do catre, a passagem dos muges, a ida à tropa, e tantas outras. O Galhofa canta o fado, imita um bêbado na perfeição e faz-nos bem ao fígado. A todos menos ao Rafael que puxa por ele e nunca se ri…

Junho de 1974

____________
* Publicado no Jornal de Sesimbra, na rubrica «Quando morre a madrugada – Retrato de uma Certa Sesimbra: Aos filhos da noite».

2 comentários:

  1. Há os que irradiam luz onde quer que estejam e depois há os chatos...

    BOA NOITE, Ó MESTRE!

    ResponderEliminar
  2. Felizmente, cara Ana, sempre que havia um almoço "daqueles, dos tais", a luz estava sempre presente e terminava tudo na... GALHOFA!

    Boa noite, ó Mestre!

    ResponderEliminar