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segunda-feira, 24 de maio de 2010

NOVENTA E TAL CONTOS, 11




Zé Brandão

António Cagica Rapaz

O jornal que recebi exibia uma fotografia tradicional, acompanhada do habitual testemunho de gratidão. Falecera José António Preto Júnior, o nosso Zé Brandão, velho mestre de armas, coronel das Índias que conduzia as tropas pela noite fora. Companheiro bem disposto, modelo de correcção e cordialidade, deve ter-se sentido muitas vezes alvo de críticas fundadas em preconceitos postiços. Um homem daquela idade, diziam as almas piedosas e pudicas, devia era ter juízo e não andar naquelas vidas. Bem ele fez ao aproveitar os últimos anos para respirar a plenos pulmões a alegria bonacheirona da boémia singela da companha que embarcava na traineira da Marisqueira, lançava redes no Chagas e atracava no Espadarte Clube. Muitos dos que criticavam passavam as mesmas noites em convés de fumo, batendo as cartas em sintéticos de má sorte...

O Zé Brandão era o chefe de fila de uma velha guarda bem humorada e sem outra pretensão que não fosse rir e dar ao pé, sem convicções ilusórias de conquistadores de fotonovela barata.

Fica para a história local a epopeia, o mano a mano arrebatado entre o Zé Brandão e o Ernesto Corneta na rábula da peixaria e da oficina. E ficam na memória de todos nós o sorriso permanente e a figura simpática do velho mestre. O Zé Brandão continua a ser cá dos nossos...

1982

2 comentários:

  1. Calculo que o Zé Brandão, pela descrição aqui feita, tivese sido membro destacado daquela sociedade pouco secreta a que alguns chamaram "Filhos da Noite"...

    Anos passados, cabe-nos agora a nós pegar nas palavras finais deste texto para afirmar sem hesitações:
    O Tó Mané continua a ser cá dos nossos...

    BOA NOITE, Ó MESTRE!

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  2. E sempre o será!!!

    Boa noite, ó Mestre!!!

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